Enquanto critica duramente o governo federal pela imposição de sigilos considerados excessivos, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem enfrentado acusações semelhantes dentro de sua própria gestão. O principal foco das críticas recai sobre a falta de transparência em torno dos benefícios fiscais concedidos a empresas, cujo total previsto para 2025 ultrapassa os R$ 22,7 bilhões — cifra superior ao orçamento da Secretaria de Educação do estado, estimado em R$ 19,5 bilhões.
Zema se apresenta como defensor da clareza nos atos públicos e tem intensificado ataques ao presidente Lula (PT), principalmente sobre o uso de sigilo de até cem anos para determinadas informações. No entanto, em Minas, os dados sobre quais empresas recebem incentivos fiscais não são divulgados detalhadamente, o que levanta questionamentos sobre a real aplicação do princípio da transparência.
Em nota, a Secretaria da Fazenda de Minas afirma que os dados são disponibilizados aos órgãos de fiscalização e ao público, mas sem identificação dos beneficiários. Essa ausência de detalhes motivou críticas na Assembleia Legislativa, especialmente após o contingenciamento de R$ 1,1 bilhão no orçamento estadual e a apresentação de um plano para renegociar a dívida de R$ 168 bilhões com a União.
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Durante audiência pública, o vice-governador Mateus Simões, também do Novo e pré-candidato à sucessão de Zema, admitiu o problema. Declarou ser contrário ao sigilo fiscal e prometeu estudar formas de divulgar as informações, nos moldes do modelo federal que lista os principais beneficiários.
Apesar do discurso de transparência, os números revelam um crescimento nos benefícios fiscais, que aumentaram em R$ 4,4 bilhões em relação ao ano anterior, considerando a inflação. A proporção desses incentivos em relação à receita corrente líquida também subiu, de 12,31% em 2024 para 14,64% em 2025.
Zema tem utilizado o tema da segurança pública como outro ponto de confronto com o governo federal. Em declarações recentes, fez referência ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele, elogiando sua postura rigorosa contra o crime. Em tom provocativo, disse que “no Brasil, os criminosos muitas vezes estão dentro do governo”, reforçando sua estratégia de alinhamento com o eleitorado conservador, especialmente após a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O cenário expõe as contradições entre o discurso e a prática dentro da gestão mineira, e reacende o debate sobre até que ponto o princípio da transparência está sendo, de fato, respeitado — tanto em Brasília quanto em Belo Horizonte.