O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), desembarcou em El Salvador com o objetivo de conhecer de perto a controversa política de segurança pública do país centro-americano, baseada no encarceramento em massa. No entanto, o que era para ser uma vitrine política acabou em frustração: Zema não foi recebido pelo presidente Nayib Bukele, figura central dessa estratégia e bastante ativa nas redes sociais.
A viagem foi custeada com recursos públicos e contou com a presença dos secretários de Segurança Pública, Rogério Greco, e de Comunicação, Bernardo Santos. A expectativa do governador era garantir uma foto ao lado de Bukele, o que daria força à sua tentativa de se projetar como o nome da direita brasileira para a disputa presidencial de 2026 — especialmente entre o eleitorado alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que vê com simpatia a figura autoritária do salvadorenho.
Com a ausência de Bukele, Zema teve que se contentar com uma reunião com o vice-presidente do país, Félix Ulloa. Apesar do contratempo, ele usou suas redes sociais para tentar manter o tom político da viagem, criticando duramente a segurança pública brasileira. Em sua avaliação, falta coragem ao Estado para enfrentar a violência, que causa cerca de 40 mil homicídios por ano no país.
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A inspiração de Zema na política salvadorenha é alvo de críticas internacionais. Desde 2019, quando Bukele assumiu o poder, mais de 70 mil pessoas foram presas, muitas sem o devido processo legal, segundo denúncias da Human Rights Watch e da Anistia Internacional. O estado de emergência em vigor desde 2022 tem suspendido direitos constitucionais, permitindo detenções arbitrárias, tortura, desaparecimentos e outras violações.
A viagem, além de gerar polêmica pelo uso de recursos públicos em meio a uma agenda pessoal e eleitoral, também revela a tentativa de Zema de se firmar como uma figura relevante na direita nacional. Mesmo sem a tão esperada foto com Bukele, o governador segue apostando no discurso de endurecimento da segurança como trunfo político para os próximos anos.