Uma clínica clandestina destinada ao tratamento de dependentes químicos, localizada no bairro Bonfim, na região Noroeste de Belo Horizonte, foi interditada por uma força-tarefa nesta quarta-feira. A medida drástica foi tomada após o recebimento de diversas denúncias que apontavam para práticas de maus-tratos, condições de higiene deploráveis e, tragicamente, a ocorrência de mortes no local, a última delas registrada na noite de terça-feira com o falecimento de um senhor de 60 anos. Os órgãos responsáveis pela operação informaram que a unidade, conhecida como Casa Azul, operava formalmente como uma comunidade terapêutica, mas na prática havia se desvirtuado, funcionando como um verdadeiro "depósito de pessoas", onde conviviam de forma precária idosos, indivíduos com transtornos mentais e a população em situação de rua, todos sem a estrutura mínima necessária para um acolhimento digno.

Durante a inspeção detalhada conduzida pelas equipes, foram identificadas diversas inconformidades que atestavam a insalubridade do ambiente e a gestão inadequada do cuidado. As constatações incluíram desde alimentação de qualidade duvidosa e o manejo incorreto de medicamentos, até a ausência de pessoal técnico capacitado para lidar com as necessidades dos acolhidos. Um aspecto particularmente alarmante foi o uso da mão de obra dos próprios internos para a realização de serviços básicos, como a limpeza das instalações e o preparo das refeições. O indivíduo que gerenciava o espaço, apontado como um pastor, cobrava mensalidades pela permanência e, em certas ocasiões, apropriava-se do benefício de prestação continuada (BPC) dos assistidos. Mesmo após ter sido autuada anteriormente pela Vigilância Sanitária, a unidade não corrigiu as irregularidades, o que levou à ação de interdição.

O promotor de justiça André Sperling, presente na operação, ressaltou a gravidade da situação, descrevendo o local como um espaço onde estavam misturadas pessoas com sofrimento mental, idosos e a população de rua, vivendo em condições insalubres, com alimentação ruim e medicamentos administrados de forma errônea, confirmando os três óbitos recentes. Com o fechamento compulsório, todos os internos foram imediatamente direcionados para atendimento de saúde mental, encaminhamentos para abrigos mantidos pela prefeitura e outras estruturas de acolhimento adequadas. A investigação criminal também foi aberta para apurar a possível ocorrência de ilícitos penais durante a administração da casa. O responsável não estava no local no momento da fiscalização, mas um advogado compareceu em seu nome.