Uma onda de repúdio se espalhou pelo Vale do Jequitinhonha após declarações polêmicas da CEO de uma mineradora de lítio, que se referiu à população da região, incluindo crianças, como "mulas de água" e uma "geração perdida". As falas, proferidas durante a COP30 em Belém e também em agosto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), geraram manifestações de prefeituras, dioceses e entidades locais. A executiva, que é copresidente da Sigma Lithium, empresa com atuação nos municípios de Araçuaí e Itinga, afirmou que a companhia teria resgatado essa "geração perdida" ao capacitá-los para trabalhar na planta da mineradora, tirando-os do cultivo de bananas.
A CEO alegou que, antes da intervenção da empresa, trabalhadores passavam a infância carregando água em recipientes na cabeça e não tiveram acesso à educação, sendo posteriormente empregados em "bananais". Ela chegou a citar o treinamento de 43 ex-"mulas de água" que se tornaram operadores da planta. Em resposta, diversas autoridades e instituições condenaram veementemente os termos. A Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB exigiu retratação imediata, classificando as palavras como um desrespeito que "ferem a verdade, humilham o povo e revelam profundo desprezo pela região". O bispo da Diocese de Araçuaí também criticou as falas e questionou a atuação social da empresa.
As prefeituras de Araçuaí, Itinga e Virgem da Lapa manifestaram-se, contestando a narrativa da executiva. O prefeito de Araçuaí afirmou que a imagem evocada pertence a um "passado distante" e é inexistente atualmente, enquanto o prefeito de Itinga classificou a fala como incompatível com a dignidade do povo local. As gestões municipais refutaram os pontos centrais levantados pela CEO, apresentando dados sobre as altas taxas de escolarização na região e negando o envolvimento da mineradora na "abertura" de escolas, limitando-se a reformas pontuais. Além disso, produtores de banana repudiaram a insinuação de trabalho infantil, destacando que a bananicultura é um importante motor econômico regional, gerando riqueza e empregando trabalhadores de forma legal.
