A Promotoria de Milão iniciou uma investigação que resgata alegações sombrias do Cerco de Sarajevo, na Bósnia, entre 1992 e 1996. Denúncias apontam que turistas de alto poder aquisitivo teriam desembolsado cerca de 90 mil dólares para participar de um hediondo “safári humano” durante o conflito. A acusação sustenta que esses visitantes estrangeiros obtinham acesso a posições estratégicas nas colinas que cercavam Sarajevo, de onde supostamente disparavam contra civis indefesos. O cerco manteve a cidade sitiada por quase quatro anos, resultando na morte de aproximadamente 11 mil civis, incluindo mais de 1,6 mil crianças.
Os relatos sugerem que unidades do exército servo-bósnio facilitavam a entrada desses visitantes em pontos de observação seguros nas encostas, permitindo que monitorassem a cidade. De lá, testemunhas afirmam que eles atiravam em moradores que tentavam atravessar áreas abertas, chegando a mirar em crianças. As investigações ganharam tração após surgirem relatos de que italianos estariam entre os principais envolvidos no esquema, embora americanos também tenham sido mencionados. A repercussão internacional foi imediata, levando uma congressista dos Estados Unidos a anunciar sua própria apuração devido à suposta participação de cidadãos de seu país.
A denúncia formalizada pelo jornalista Ezio Gavazzeni, com 17 páginas, detalha o alegado esquema, afirmando que “pessoas muito ricas” pagavam valores elevados para atuar nesses disparos. Gavazzeni expressou a crença de que “pelo menos uma centena” de turistas pode ter participado do “safári”. O tema não é inteiramente novo, tendo sido abordado em obras anteriores, como o livro “The B**tards of Sarajevo” (2014) e o documentário “Sarajevo Safari” (2022), onde um ex-oficial de inteligência bósnio descreveu o transporte dos visitantes de Belgrado a locais elevados com vista direta para zonas críticas de Sarajevo.
Um ex-fuzileiro naval americano também corroborou, em depoimento ao Tribunal Penal Internacional, a existência de “turistas atiradores” que viajavam à cidade “para acertar civis por diversão”, descrevendo um deles como um iniciante com um rifle de caça. Contudo, especialistas na região, como o jornalista britânico Tim Judah, levantaram dúvidas sobre a escala ou a veracidade completa desses relatos, mencionando que nunca ouviu menções ao esquema durante sua estadia no quartel-general das forças servo-bósnias. Atualmente, a investigação busca coletar documentos, depoimentos e registros que possam comprovar ou refutar as graves alegações, mantendo o interesse internacional sobre um dos episódios mais chocantes da década de 1990.
