O Partido Novo em Minas Gerais atravessa uma crise existencial que aponta para o abandono definitivo de suas raizes. O que nasceu com a promessa de ser uma alternativa disruptiva ao sistema tradicional hoje se consolidou como uma linha acessoria de grupos politicos hegemonicos, especialmente da familia Aro, que exerce influencia direta sobre os rumos da legenda no estado. A sigla que pregava a independencia parece ter se curvado ao pragmatismo das aliancas de conveniencia.

A descaracterizacao e profunda e atinge o cerne da fundacao da legenda. O Novo foi concebido sob a premissa de nao utilizar recursos publicos, mas hoje gere e gasta o fundo partidario sem qualquer pudor e ja se prepara para a utilizacao do fundao eleitoral nas proximas disputas. Esse desvirtuamento estatutario representa uma traicao aos pioneiros e doadores que acreditaram em um projeto de politica feita com recursos privados e voluntariado. Nao por acaso, diversas liderancas historicas e fundadores abandonaram o barco ao perceberem que o partido se tornou apenas mais um no cenario nacional.

A gestao estadual mineira, embora sob o comando de Romeu Zema, nao conseguiu traduzir o poder em crescimento organico para a sigla. O Novo chega ao fim de seu ciclo no comando de Minas Gerais com uma representatividade pequena, detendo apenas nove das 853 prefeituras mineiras e nenhum deputado federal eleito pelo estado. A perda de credibilidade e acentuada pela saida iminente do vice-governador Mateus Simoes, que deixara a legenda para buscar a sucessao em outra sigla, evidenciando que nem mesmo a cupula estadual aposta na viabilidade do partido como protagonista isolado.

O cenario atual mostra um partido que persegue internamente quem tenta manter uma postura moderada ou liberal independente, priorizando acordos de bastidores que atendem a interesses alheios ao programa original. Ao abrir mao de sua identidade em troca de espacos no governo e acesso ao dinheiro publico, o Novo em Minas Gerais deixa de ser uma esperanca de renovacao para se tornar um satelite da politica tradicional, perdendo a unica coisa que o tornava relevante: a sua diferenca.

* Rogério Anício é editor-chefe do Portal Minas e ex filiado do parido NOVO